Pergunta

Caro colega,

Neste fim-de-semana, apresentou-se nas urgências, um gato macho com 5kg castrado, que tinha caído do quinto andar. Tirou-se RX abdominal para verificar ruptura de bexiga e realizou-se um bom exame físico sem encontrar nenhuma fractura. Tinha dificuldade respiratória e ao fazer exploração da cavidade oral encontrou-se uma fenda palatina ao nível caudal com cerca de 2 cm de comprimento.

Qual é a técnica cirúrgica e protocolo anestésico ideal para a resolução deste caso? O que pode ocorrer se o animal não for sujeito a cirurgia ou se esperar-mos alguns dias para a realização da mesma?

Muito obrigada pela sua resposta.

Resposta

Não deve ter pressa em submete-lo a cirurgia, deve vigiar porque normalmente esta patologia está acompanhada de pneumotorax. A dificuldade respiratória pode ser devida à comunicação da boca com o nariz, mas também por haver pneumotorax. Tenha cuidado se o submeter a anestesia com pneumotorax, porque a sua capacidade respiratória está diminuída, incrementando consideravelmente o risco da anestesia.

Se não existir pneumotorax e o resto do animal está ok, deve operá-lo, pois dificilmente uma fenda palatina fecha por segunda intenção.

Deve fazer uma incisão paralela à direita e outra à esquerda da mesma largura da fenda, depois separar a mucosa desde a fenda até à incisão, tanto do lado esquerdo como do lado direito. Agora aproxime os bordos, sem problema, suture com fio multifilamentoso reabsorvível, preferencialmente Safil Quick. O fio é absorvido em poucos dias e é menos agressivo que um fio monofilamento. Quanto ao calibre do fio utilizado o 3/0 é o mais indicado.

Anestesie sem problemas se tudo estiver ok. Pré-medique com medetomidina, ketamina e butorfanol, entube e use como anestésico volátil o isoflurano. Parece-me a melhor opção. Também pode utilizar acepromasina, ketamina e buprenorfina, induzir com propofol, entubar e isoflurano.

Se alguma coisa não estiver clara, não hesite em voltar a consultar-me.
Cumprimentos
Félix García
U.A.B.

Pergunta

Olá!

Visitou-nos um cão de vinte meses com um corpo estranho/massa/volume, na porção dorsal da base da língua. Há alguns meses retirámos-lhe uma verruga da cara, mas não enviámos para histopatologia. Esta mesma verruga voltou a aparecer.

O corpo estranho/massa/volume da língua tenho a certeza que não existia na altura, porque quando fizemos a cirurgia entubamos e teríamos visto. O que se passa, é que, o corpo estranho/massa/volume, está muito profundo, tem cerca de dois centímetros de diâmetro e a sua base é muito larga.

A dúvida é, como devemos actuar nesta zona da língua, como controlar a hemorragia e como fechar o defeito causado?

Resposta

Bom dia¡

A língua é o sítio ideal para fazer granulomas por Leishmania, não descarte essa hipótese, mas normalmente ocorre no freio e não na musculatura. Caso não seja, os tumores de língua podem ser carcinomas, normalmente bastante agressivos.

O ideal é ter uma biopsia prévia, uma vez que se pode tratar de um papiloma, mas a sua forma é tão característica que seguramente o identificava.

A membrana da língua, e mais até na porção dorsal, é muito consistente para suportar a sutura. Anexo umas fotos para que veja como deve fazer, para que se torne mais fácil fazer a sutura.

Tente traccionar bem a língua para fora, permitindo colocar um garrote o mais caudal possível, mas tenha em atenção para não seccionar as sublinguais, será uma hemorragia intensa, em toalha, mas não há nada que se possa fazer. Tente retirar o tumor com a maior margem de segurança possível. Após isso, pode soltar um pouco a membrana da língua da musculatura subjacente à zona sã e suturar a membrana com fio multifilamento, que rasga menos que um fio monofilamentar. Não suture apenas a membrana sem incluir a parte muscular para comprimir e conseguir hemostase. Envie para anatomia patológica e envie-me depois o resultado.

Félix García

Pergunta

Olá Félix,

Em anexo envio uma série de imagens de um caso de uma gata de 14 anos, cruzada de persa, com uma lesão compatível com carcinoma das células escamosas. Pelo que pode ver na fotografia parece que as narinas ou foças nasais se estão a estenosar e pode ficar dispneica em pouco tempo.

Antes de fazer biopsia o proprietário perguntou que tipo de solução se poderia fazer. Gostaria que me desse a sua opinião sobre este caso e se cirurgicamente acha viável.


Obrigado.

Pergunta (1 de 2)

Olá Félix! Estive nos cursos de anestesia e cirurgia que fez o ano passado por aqui.

Tivemos um problema com a anestesia de um Chihuahua de 2 kg. Digo qual o protocolo que utilizámos para que nos possa ajudar:
Chihuahua fêmea com 2kg e dez meses de idade que apresenta endometrite
Protocolo: dexdomitor 10 microgramas/kg + Morfina 0,2 microgramas/kg IM
Rimadyl SC
Indução com Tiopental
Manutenção com Isoflurano
Antes de desentubar administrámos Dexdomitor 1micrograma/kg IV
Synulox de cobertura antibiótica
Acordou bem, mas com sialorreia abundante (é a segunda cadela que acorda com sialorreia)
Administrou-se Atropina 0,04mg/kg SC e parou.

Hoje, pela manhã, começou com sialorreia e tremores músculares na cabeça e resto do corpo. Administrámos Valium IV + Tiopental IV + Atropina SC. A cadela parece estar obnubilada. Desorientada.

Dúvidas:

  • Há pouco tempo que usamos o Dexdomitor, já teve casos de sialorreia em animais após administração de Dexdomitor?
  • A que se podem dever os tremores?

Resposta (1 de 2)

Caro colega, é um prazer receber notícias suas¡

O mistério da anestesia¡¡¡¡¡¡¡¡¡¡

O protocolo anestésico e as doses são correctas. Nós preferimos fugir de fármacos que podem causar hipotensão ainda mais em animais tão pequenos. Morfina e Midazolan seria a nossa opção. Induziríamos com propofol, a hipotensão será a mesma mas muito mais breve. Nós agora controlamos muito a pressão arterial ou com um multiparamétrico ou com um doppler.

A sialorreia não é relevante, é produzida pelos anestésicos e pela manipulação da larinje. Ao acordar administraríamos Valium.

Os níveis de glucose estavam controlados? Essa obnubilação pode dever-se a hipoglicémia.

Cumprimentos

Pergunta (2 de 2)

Olá Félix conto novidades do caso;
No dia seguinte à cirurgia ocorreram tremores que culminaram em convulsões generalizadas. Tratámos com Diazepan mas como não reverteu passamos para Tiopental.

A questão é que conseguimos controlar as convulsões e tremores mas agora a cadela está cega (apenas tem reflexos pupilares) e surda.

Que lhe parece?
Cumprimentos

Resposta (2 de 2)

Bom dia¡

Creio que tudo isto se está produzindo por uma hipotensão durante a cirurgia, que é, actualmente, o parâmetro que mais controlamos durante a anestesia, e se a pressão média baixa de 60 actuamos rapidamente.

O seu paciente também é candidato a hidrocefalia e ao shunt, porém esta cegueira sem dúvida alguma é devida à hipotensão. Resumo-lhe duas citações, uma dos “Segredos de Anestesia” e outra de “Lumb&Jones”, a bíblia de anestesia, nelas diz-se que a cegueira é uma consequência clara da hipotensão durante a cirurgia e apontam que em 2 semanas a cegueira será ultrapassada. Os colegas de neurologia confirmaram-me também que a hipotensão pode ser o motivo das convulsões, e não são tão optimistas em relação à cegueira.

Boa sorte¡¡¡